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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre o cinza (entre outras coisas)

2015 foi um ano bosta. Não tem outro jeito de se colocar. Foi um ano de brigas, discussões. O Mundo andava parado, o disco arranhado e o futuro parecia congelado como quem não tem horario pra festar. Amanhece o dia chuvoso de 2016 e os ventos e as promessas novas são sussurradas aos 4 ventos. Mudanças. O Futuro começa a descongelar, e junto com ele, as palavras parecem querer sair pelas pontas de meus dedos. Uma insonia funebre que há muito não sentia, como um desespero leve que sempre foi meu combustivel para escrever. Vomitar minhas trevas, explodir com o mundo e esganar esse fantasma que parece mais vivo do que nunca escondido no meio desse emaranhado de letras.
Esse ano começou com um fantasma de um 2015 já enterrado que parece querer dar seus ultimos suspiros. Caos, tormenta, perdição deram suas caras. Mas eu particularmente não acredito que seja a nova face desse ano. Acredito que o que está chegando será maior. Muito maior. E que aos poucos o mundo está entrando nos eixos. Aos poucos esses tons de cinzas ganham cor atraves dos meus olhos. E eu sinto vontade de colorir o resto. De abrir as janelas e deixar o sol entrar. E se tiver chovendo que molhe a casa inteira. Mas eu quero o ar fresco. Eu quero poder respirar de novo. O ar empoeirado desse castelo que foi construido sabe Deus há quanto tempo. Com a luz batendo em meus grilhões que foram sempre minha companhia, sinto de repente a urgencia de voar. Uma agonia inexorável que me motiva a pular, a espernear, a amar esse caos. Que toma cada vez mais folego nessa tormenta e em meu desespero e finalmente diz: Chega!
Eu cansei de nunca ser o suficiente. Eu cansei de viver com migalhas, dançar no escuro pra que ninguem me veja, cantar na solidão para que ninguem me escute. Fingir esquecer de minhas asas para que não parta por esse mundo e abandone... o que mesmo?  Nem sei mais.
Aos poucos esses grilhões se dissipam e vejo que sempre estiveram presos somente aos meus medos e paranoias. Talvez nem tanto meus. Mas que sempre estiveram por perto. Me sufocando. E que aos poucos tomaram a minha vida e tiraram as cores do meu mundo.
Não...
Não quero mais esse mundo cinza.
Eu quero o sol. Eu quero todas as cores. Pra esse ano que nasce no leste
Eu quero plenitude...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Mensagem em uma Garrafa

Ato I  - Empatia

Sinto que venho sendo injusto.
Quando criança sempre tive facilidade para o intuitivo e para o sentimental. Conseguia com uma tremenda facilidade entender as pessoas. Sentir o que elas sentiam.
Em contra partida, o lógico, o simples, o trivial. Nunca me veio fácil.
Sempre tive a sensação de que todos conheciam algo que eu não sabia.
Que o que me parecia sempre novidade, era algo que todos ja conheciam há muito tempo.
Sempre me senti um passo atrás, menos humano.
De tempos em tempos me via em situações onde pessoas cobravam-me algo que eu nunca recebi. Algo que eu nunca aprendi. Algo que eu nunca vivenciei.
Não sei se foi algum erro na educação, algum retardo mental ou o destino drummondriano que me afetou desse jeito.
Esse sentimento de desespero era ampliado, pelo desespero do mundo.
Que eu sentia, a cada pessoa, a cada nova vida. Que me olhava nos olhos, no fundo do meu ser.
E eu conseguia sentir. O desprezo, as expectativas, o amor sufocante, os desejos, os desesperos.
Tudo me vinha. E tudo eu sentia.
Essa faca de dois gumes foi o que sempre me aprisionou.
Tive que seletivar amigos, pois não aguentava sentir.
Esgotavam-me facil, a cada encontro, a cada conversa.
E eu queria ajudar, queria ser o motivo da alegria de alguem, curar todas as dores do mundo, ser o eixo que não quebra, que não entorta, que nunca sai fora do tom.
Aos poucos esses sentimentos me invadiam e me inundavam.
Aos poucos, não reconhecia mais quais eram os meus e quais eram os do mundo.
E eu cometi muitos erros, machuquei muitas pessoas sem necessidade, tudo por querer ser tudo pra todos. Ser o imbatível, o inabalável, o coringa da carta de baralho.
E eu fui me perdendo.
E eu fui enlouquecendo.

Ato II - A torre fulminada

Tranquei-me emocionalmente. Fechei-me numa torre perdida, no alto da colina de rosas vermelhas.
Passei a viver e refletir, e a conhecer o mundo. Observava de longe os passageiros. Trocava cartas, Mensagens em garrafas. Cantigas de roda.
Aprendi muito sobre o mundo olhando aqui de cima. Via as pessoas se divertindo, passando. Sempre tão facil, sempre tão normal.
Ao mesmo tempo em que esperava.
O que? Nunca soube.
Com o tempo as pessoas se perguntaram quem era o garoto preso no alto da torre.
Alguns até tentaram escalar e descobrir.
Mas a torre parecia crescer a cada metro subido.
O destino parecia rir das esperanças do menino.
E o menino começou a aceitar isso, e a deixar-se enganar pela escuridão que aos poucos parecia penetrar naquela torre.
Não havia companhia. Não havia corpo quente. Não havia proximidade.
A simples espera de algo impossivel, improvavel, inexistente.
Uma morte lenta parecia mais provavel.
Foi pouco a pouco fechando seu contato com a esperança.
Mas as dores do mundo continuavam.
Penetravam pelos raios de sol de cada fresta de cada janela.
De cada buraco por dentre as pedras.
A familia, os amigos com quem convivia, e o proprio reflexo no espelho,
pareciam enforca-lo.
Ele queria sair, fugir, conhecer coisas novas.
Não aguentava mais. Não sabia mais quem era.
Perdera sua identidade em indagações e esqueceu que a vida era algo mais.
E as dores desse menino, eu sentia como se fossem minhas.
Como se me torturassem toda a noite antes de dormir.
E eu não pude mais aguentar.
Escalei novamente aquela torre.
Aquela torre que sempre me pareceu cada vez mais distante.
Subi o maximo que pude. Subi o infinito e finalmente cheguei no topo para salva-lo.
E quando finalmente me dei por mim, estava sozinho no topo da torre olhando para meu proprio reflexo.
A imagem do menino cuja identidade se perdeu em algum momento dessa história.
E um raio partiu essa torre ao meio. E tanto eu quanto esse reflexo caimos.
Indefinitamente. No amago desse universo.
Estilhaçaram-se no chão e só um se levantou.

Ato III - Signo de Gemeos.

As dores ampliadas da queda me ajudaram a reconstruir meu ser. Eu senti uma dor que era tão minha, quanto do mundo. E isso me era ampliado indefinidamente.
Aos poucos aprendi a filtrar. O que era meu e o que me era alheio.
Tive que cortar relação com o mundo para conseguir isso.
E me pus a andar. Caminhei por caminhos tortuosos, que levavam a lugar algum.
Conheci pessoas de perto. Precisei de pessoas. Precisei de carinho.
Aos poucos passei a não me importar.
As dores do mundo que tanto me assolavam pareciam diminuir até se tornarem insignificantes.
Tornei-me um tanto quanto niilista.
Mas pelo menos algo estava acontecendo.
Sentia o crescimento acontecendo.
Quanto mais conhecia o mundo, mais o mundo entrava em mim.
E eu passei a entender o mundo como um todo,
Passei a desvendar os misterios, e achar respostas.
Fui pra outro país. Fui pra outra linguagem. Fui pra outro mundo.
E o que encontrei foi novamente a sensação de atraso.
De que os anos que passei naquela torre, ocasionaram a perda de grande parte da minha vida.
Novamente as pessoas pareciam dez até quinze passos à frente.
E eu sinto a ansiedade tomar conta de mim.
Novamente me sinto julgado, por ser algo diferente, por ser alguem diferente.
Sinto que não importa o quanto você corra, o mundo sempre vai esperar mais de você.
Sempre vai te puxar pra frente até você quebrar.
Vai te atropelar como uma roda que não pode ser parada.
E eu decidi marcar o passo. Correr.
Sinto que estive sendo injusto por muito tempo.


Ato IV - Revelação, Karma e Decisões
(Antes que se passe um segundo, você terá morrido cem mil vezes)

Essa injustiça é uma traição. Minha para com as pessoas que um dia chamei de amigo.
Como sempre fui de sentir o coração das pessoas. Aprendi a manipular certos acontecimentos para conseguir um pouco de paz, um pouco de ar para respirar. Sentia-me o vilão dos quadrinhos, com uma mentalidade diabólica. Sentia-me egoista por não conseguir ser a altura dos sentimentos do mundo. Das expectativas. Dos amores. Do status quo. Como se sempre estivesse à beira de decepcionar alguém pelo simples fato de existir. E de mentir. E de tentar ser o que as pessoas queriam que eu fosse. Por isso sempre foi dificil viver em sociedade. Por que socializar era mentir. Era sempre estar atento. Era não deixar transparecer. Era sempre estar a beira de ter que fugir caso tudo explodisse.
Ao escrever essas palavras, até me assusto com o quanto elas traduzem o meu eu. O quanto elas traduzem diversos episodios da minha vida.
E acho que preciso começar a correr, para alcançar o que ainda me parece tão longe.
O que parece simples para todos, mas pra mim ainda é complicado.
O que eu cismo em deixar me enforcar.
E o primeiro passo é assumir a verdade.
A verdade que até tentei dizer um dia na calada da noite, de madrugada.
E a verdade, mesmo que simples, é essa.
Sou gay.
Incontestavelmente homossexual.
...

E de repende as palavras me faltam para continuar.
O que nunca estive preparado para. O que sempre me deu medo.
A verdade que tira meu mundo dos eixos.
Enfim, deixarei por aqui essa mensagem perdida nessa garrafa ilusória.
Que os bons ventos a levem...




sábado, 2 de outubro de 2010

Olhar de fora parte 1

Pensando bem, esse blog é quase um relato de tres anos de como minha mente se encontrava em determinada situação. Não me refiro simplesmente aos assuntos aqui tratados mas principalmente como eles foram tratados. Olhando os primeiros posts, os novos posts, tudo que minha vida realmente parecia ser, é tudo minha visão das coisas. Minha tentativa de organizar esse blog de uma maneira mais eficiente, diferente dos posts mais antigos, talvez seja uma tentativa de me organizar mentalemente. De parar de soltar frases soltas aparentemente desconexas e começar a criar algo linear, algo com uma direção e um sentido (como Vetores de física). Por isso peço que se for ler meus textos, não espere achar algo por tras de um deles. Veja tudo como um todo. Não acho que deva ler todos os textos desse blog, nem eu tenho saco pra isso, hahaa, mas tente entender que há toda uma historia que não pode ser deixada de lado. Como muitos religiosos pegam partes da bíblia para acreditar e simplesmente relevam outras partes, você não deve olhar para um texto e ver o que você quer ver. Mas procurar o que eu estava pensando no momento em que eu escrevi. Claro que isso é impossível saber por certo, mas eu acredito que há duas maneiras de você "ler" algo. Ou talvez de observar um trabalho artístico (se me permitem a presunção de chamar o que aqui escrevo de trabalho artístico). Você olhar o texto e tentar ver o que o autor estava tentando dizer com isso, analisar seu contexto, sua escrita e suas obras anteriores. Ou simplesmente um olhar próprio sobre o que eu enxergo do que está sendo mostrado. Adaptar determinada obra pra própria vida. Direcionar e caminhar. Você se torna parte daquilo. Não estou dizendo que uma seja mais certa que a outra. Porque há bastante divergências se você for parar pra pensar o que faz da arte, arte. Mas de qualquer modo. Tentem ver o que o autor vê de vez em quando. E tente sentir o que ele esta sentindo. As vezes você descobre coisas que nem mesmo imaginaria. Como por exemplo, estou escrevendo esse texto sorrindo, aliviado e bastante empolgado. Já tentou imaginar como o autor se sentia ao escrever? Se ele estava chorando, rindo, com raiva, cansado? As vezes agente espera determinadas reações, mas se você procurar você pode achar alternativas.