sábado, 6 de março de 2010

Nem sempre fui bom com ela, melhor dizendo, era um filho da ****. Amava-a tanto que não sabia o que fazer. Em vez de lhe dar o que eu sentia, de enche-la com aquele amor áspero, eu o engolia. É uma coisa que eu não entendo: seu amor me chegava fácil, em troca o meu não fluía para ela. Acredito que o amor dela reprimia o meu. Ela e o seu amor formavam uma substância espessa e o meu amor e eu ficávamos travados, então me enfurecia e ela não conseguia entender. Tratei-a mal muitas vezes por que estava desesperado mas a amava mais que a minha própria vida... e quando ela se foi minha vida se apagou.
Quando soube que nunca mais ia tê-la, enlouqueci: "Antes que se passe um segundo você terá morrido cem mil vezes", diz uma frase do Corão e eu tive que vivenciá-la. Ela não tinha deixado de me amar, mas seu amor estava doente e não suportava a minha presença. Vi toda a dor em seus olhos, todas as minhas traições e mentiras, eu era a pessoa entre ela e eu, o rival impossível. Então, quando já não importava, meu amor eclodiu, seu amor doente não opunha resistencia e o meu foi em direção a ela como um raio mas ela estava fechada. E o meu amor ficou comigo e houve gotas de sangue no meu silêncio. Ela se afastou e eu entrei no quarto do castigo, o menos florido de todos os manicômios, e ainda não sai.
Como não tenho a quem odiar eu o odeio, como não há culpado eu o culpo, como não há inimigo eu o transformo em inimigo. O meu amor é sobrenatural, um pecado de Deus, uma telenovela sem fim, um novo comercial de margarina. Como quem devo matar é a mim, mato o amor. Como sou incendiário, o inominável, eu o nomeio. Como não consegui explicar a ela o quanto a amo, explico ao mundo.

Um comentário:

brú disse...

Me desculpe pela sinceridade, como sempre, mas isso não é amor.
Você acha que é.
Mas na verdade ele também é doente.

Não é estranho só gostar das pessoas quando elas estão longe de você?

Quem ama, ama em qualquer condição, perto, longe, em dias de mau humor, do modo normal ou de cabeça pra baixo. Não precisa colocar barreiras nem a sua "distância segura".