sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mentiras

O grande problema da mentira, é quando você esquece que ela é uma. Você prefere aceitar a mentira como verdade por conveniência ou por falta de coragem. Que seja. Mas ela ilude e engana os outros.
O problema da mentira, não é a lógica por traz da mentira, mas sim o sentimento que leva a mentira a ser contada. O problema não é nem ser enganado, é sentir que a pessoa precisa te enganar. Pouco importa quem está certo ou quem está errado. Se foi necessário ou não. 
Se a pessoa sente que é mais fácil mentir pra você, mentir pra si mesmo, e jurar de mãos dadas que a verdade é essa, mesmo que não seja... É preocupante. 
Não vejo problemas em mentiras. Desde que você sinta que em algum momento você possa contar a verdade. Agora o quão tenebroso é mentir e prolongar essa mentira indefinidamente. Mentir para sempre. Convencer a pessoa e sentir melhor por isso. Passar a vida inteira enganando e sentindo a fragilidade do caráter e da amizade em si.
Mentiras. 
Sinceridade é algo raro nesse mundo. No dia em que achares alguém que te olhe nos olhos e seja capaz de dizer tudo o que realmente pensa. Saiba que achou uma alma rara nesse mundo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"E nesse ponto abrasou-me de repente como aguda chana a revelação definitiva: todo homem tinha uma "missão", mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever : procurar-se a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo. Tal descoberta comoveu-me profundamente e foi para mim como o fruto daquela vivência. Muitas vezes havia brincado com imagens do futuro e havia entressonhado os destinos que me estavam reservados, como poeta talvez ou talvez como profeta, como pintor, ou de que modo fosse. E tudo isso era um equívoco. Eu não existia para fazer versos, para rezar ou para pintar. Nem eu nem nenhum homem existíamos para isso. Tudo era secundário. O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até si mesmo. Depois, podia acabar poeta ou louco, profeta ou criminoso. Isso já não era coisa sua, e além de tudo, em última instância, carecia de todo alcance. Sua missão era encontrar seu próprio destino, e não qualquer um, e vivê-lo inteiramente até o fim. Tudo o mais era ficar a meio caminho, era retroceder para refugiar-se no ideal da coletividade, era adaptação e medo da própria individualidade interior. Essa nova imagem ergueu-se claramente diante de mim, terrível e sarada, mil vezes vislumbrada, talvez expressa alguma vez, mas somente agora vivida. Eu era um impulso da natureza, um impulso em direção ao incerto, talvez do novo, talvez do nada, e minha função era apenas deixar que esse impulso atuasse, nascido das profundezas primordiais, sentir em mim sua vontade, e faze-lo meu por completo. Esta, e somente esta, era a minha função."

Demian - Herman Hesse