domingo, 15 de dezembro de 2019

Caos

Todas essas vidas passam pelos meus olhos em um segundo. Não sei quem são. Serão minhas? Um choro de desespero, tudo que não vivi. O passado parece eterno, petrificado. Algo me diz que ele é vivo.
Tento lembrar da minha vida e ela se perde. Sou um novo eu, mas quem eu era? Não sei mais.
Aprofundo essa dor e ela me é familiar, mas não sei de onde vem.
O passado parece vivo. Constantemente mudando, se contorcendo. Memórias de uma vida que não é minha. Meu peito se fecha de dor e tudo que eu nunca vivi parece tão claro.
As escolhas, as mudanças, os arrependimentos. Cada ponto da minha vida que parecem ter me trazido aqui. Cada curva onde eu me perdi. A vastidão de possibilidades me deixa triste.

Eu sou quem eu sou por quem eu era. Se quem eu era fosse diferente, seria eu o que sou? E se eu resolvesse mudar? E se eu pudesse mudar o passado? O meu eu seria quem?

Com quem converso todas as noites? Quem eu abraço até dormir chorando enquanto essas memórias fluem pelo meu coração?

Por que eu sinto que estou numa competição comigo mesmo? Eu queria respostas. Eu queria uma verdade, mas a verdade é o que eu luto constantemente para não enxergar, por que ela, no fim, vai me destruir e me deixar a deriva em um caos interminável

Não me leve a mal, eu conheço esse caos. Eu amei esse caos. Eu vivi.

A vontade que a vida tem, o eu de agora que quer viver e viver e reviver. Até esgotar todas as possibilidades, mas a verdade é que eu não vivo. Eu travo. Eu me sinto preso. Preso em mim mesmo, preso na minha história. Preso nesse mar de verdades que eu crio para me divertir. Nessas memórias que não existem, mas que poderiam existir se eu simplesmente fosse capaz de viver.

Mas eu não vivo. Eu existo. Eu sou.

Caos

segunda-feira, 18 de março de 2019

Prólogo

Sento-me novamente em frente a essa tela e me parece um mundo completamente estranho. Faz tempo que não mergulho novamente nessas águas. Não sentia necessidade. Minhas trevas, meu passado, todas as minhas sombras, parecem fazer parte de mim. Carrego-as para os lugares e nos sentamos no banco de uma praça mal iluminada e conversamos como velhos amigos presos numa história que ninguém vai ler.
Substitui essa tela por novos vícios. Substitui minhas paranóias pelo simples fechar de uma porta. Olho para o passado como quem olha para um livro terminado, empoeirado em uma prateleira. Nunca julgado, mas simplesmente estático, imutável, uma lembrança que não abro mais. Não por medo ou dor ou amargura, mas pela sensação de que não há mais necessidade de abrir. 
Ao mesmo tempo, vejo uma nova história se iniciando. Um novo ciclo subindo no horizonte. A sensação de terror me acomete aos poucos, mas logo me lembro de tudo que me trouxe até aqui. Não sei o que o futuro me espera. Não sei o que a esperança me trará, se é que trará algo. Durmo mal a noite, acordo cansado, preso e estagnado, mas a sensação de rompimento é real. 
Um novo livro está se iniciando. Até novos personagens aos poucos vão se apresentando. Iniciam um musical em minha mente, mas estão quase inaudíveis. 
Canta e ri e pula e tropeça. O bobo da corte pressagia um novo conto. Uma nova tragédia. Uma nova comédia. 
Talvez por isso esteja aqui de novo. Talvez por isso esteja com essas palavras me inundando. 
Sinto um desejo dentro de mim. 
E o horizonte de repente parece um pouco menos distante. 
Comecemos