domingo, 29 de maio de 2016

Paisagens Noturnas

Um grito no meio da noite. Meu? Ou seu?
Acordo assustado, suor frio, coração acelerado. E percebo que não estou em casa. Acordo perdido, não consigo ver nada. O desespero me consome. Procuro algo. Mas não me recordo o que. Procuro desesperadamente. Não consigo achar. Começo a procurar pelo chão. Vou cavando até minhas unhas sangrarem. Nada. Começa a chover (ou já estava chovendo só não percebi?) e a lama começa a afundar sobre meus pés. Só consigo afundar aos poucos. Um pouco mais de desespero. Um pouco menos de ar. Meu coração parece sair do meu corpo. "Você falhou" ele me diz e parte para a escuridão. Leve-me daqui. Esqueça isso tudo.
Minha mente divaga entre fantasmas do passado. Aqueles que se foram e os que me abandonaram no meio do caminho. Todas as desistências. Todas as dores. Tomavam forma e assistiam minha derrota. Mentiras e mais mentiras. Enevoando minha mente.
"Ele podia ter tentado mais. Ele podia ter mudado", escuto uma voz vinda das sombras. "Ele não era quem você achava que era".
Uma musica começa a tocar no fundo. Como um hino de igreja. Sinos. Tambores. Trovão.
Não suporto mais. Surto. Quero respirar. Quero sair. Aos poucos as sombras que me assistiam me envolvem. Transfiguram-se em correntes que me apertam cada vez mais. Não sinto nada. Só caio. Afundo. Junto minhas ultimas forças e grito. "Não é real. Não é real. Não é real."
Um grito no meio da noite. Meu? Ou seu?

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Afogado

O terror continua. Depois de 1 mes, me perco ainda na estrada. A luz ainda me parece escura. O sol brilha no céu, mas não esquenta. Os pingos de chuva não parecem molhar. E o frio, parece constante. Confundo o inverno com minha alma e coração. A cada amanhecer, um gosto amargo na boca que nem os deuses conseguem tirar. Aquela sensação de fracasso. De que, há muito, o tempo anda zombando de ti. Afundo nisso tudo e me deixo levar pela correnteza. Olhos por todos os lados não parecem me enxergar. Os gritos abafados parecem morrer logo ao sair de meus pulmões, dando lugar às cinzas e fumaça e agua salgada. Mas bebo como se nao tivesse volta. Como se tudo que eu precisasse fosse um final. Uma destruição pequena. Uma destruição grande. Os fantasmas já estão cansados de assombrar. Não tenho mais animo pra sentir medo. Só me deixo levar por essa nova onda. Compactuo com o diabo pela alegria de um sorriso. Deixo a luz aos poucos desaparecer. Só um pouco. Só o suficiente pra me deixar cair nesse pesadelo de sempre. Esse ciclo vicioso de intento e descontento. Queria que tudo fosse certo, mas nada o é. Quero fugir, sumir. Não aguento mais esse cenário, essa escuridão, essa luz. Só há isso no mundo? Esse eterno impasse entre ser e não ser. Mudar. Melhorar. Estou exausto de lutar. Exausto. Afogado com meu proprio sangue.