sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mentiras

O grande problema da mentira, é quando você esquece que ela é uma. Você prefere aceitar a mentira como verdade por conveniência ou por falta de coragem. Que seja. Mas ela ilude e engana os outros.
O problema da mentira, não é a lógica por traz da mentira, mas sim o sentimento que leva a mentira a ser contada. O problema não é nem ser enganado, é sentir que a pessoa precisa te enganar. Pouco importa quem está certo ou quem está errado. Se foi necessário ou não. 
Se a pessoa sente que é mais fácil mentir pra você, mentir pra si mesmo, e jurar de mãos dadas que a verdade é essa, mesmo que não seja... É preocupante. 
Não vejo problemas em mentiras. Desde que você sinta que em algum momento você possa contar a verdade. Agora o quão tenebroso é mentir e prolongar essa mentira indefinidamente. Mentir para sempre. Convencer a pessoa e sentir melhor por isso. Passar a vida inteira enganando e sentindo a fragilidade do caráter e da amizade em si.
Mentiras. 
Sinceridade é algo raro nesse mundo. No dia em que achares alguém que te olhe nos olhos e seja capaz de dizer tudo o que realmente pensa. Saiba que achou uma alma rara nesse mundo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"E nesse ponto abrasou-me de repente como aguda chana a revelação definitiva: todo homem tinha uma "missão", mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever : procurar-se a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo. Tal descoberta comoveu-me profundamente e foi para mim como o fruto daquela vivência. Muitas vezes havia brincado com imagens do futuro e havia entressonhado os destinos que me estavam reservados, como poeta talvez ou talvez como profeta, como pintor, ou de que modo fosse. E tudo isso era um equívoco. Eu não existia para fazer versos, para rezar ou para pintar. Nem eu nem nenhum homem existíamos para isso. Tudo era secundário. O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até si mesmo. Depois, podia acabar poeta ou louco, profeta ou criminoso. Isso já não era coisa sua, e além de tudo, em última instância, carecia de todo alcance. Sua missão era encontrar seu próprio destino, e não qualquer um, e vivê-lo inteiramente até o fim. Tudo o mais era ficar a meio caminho, era retroceder para refugiar-se no ideal da coletividade, era adaptação e medo da própria individualidade interior. Essa nova imagem ergueu-se claramente diante de mim, terrível e sarada, mil vezes vislumbrada, talvez expressa alguma vez, mas somente agora vivida. Eu era um impulso da natureza, um impulso em direção ao incerto, talvez do novo, talvez do nada, e minha função era apenas deixar que esse impulso atuasse, nascido das profundezas primordiais, sentir em mim sua vontade, e faze-lo meu por completo. Esta, e somente esta, era a minha função."

Demian - Herman Hesse

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

"Apesar de tudo, era quase um prazer experimentar aqueles tormentos. Há tanto tempo que andava me arrastando cego e insensível pela vida, e fazia tanto tempo que meu coração se calara, fanando-se confinado a um ângulo sombrio, que até aquelas reprovações e aquele horror que contraíam minha alma, me eram bem vindos. Era, por fim, um sentimento que ardia em chamas e no qual meu coração pulsava. Desconcertado, sentia em meio àquela atroz miséria algo como uma libertação e uma nova primavera."

Demian - Herman Hesse

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As vezes o silêncio é a melhor resposta que o mundo lhe dá.
É o sinal de que você deve preenche-lo com o que precisar.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

"-Ah - confessei -, nem eu mesmo sei. Estudei, aprendi música, li, escrevi livros, viajei...
-Engraçada a ideia que você tem da vida! Sempre metido em coisas difíceis e complicadas, e não aprendeu as fáceis? Não teve tempo para isso? Tinha outras coisas para fazer. Bem, graças a Deus, não sou sua mãe. Mas agir assim, como se você já tivesse experimentado toda a vida e nela não encontrasse nada de interessante, isso não; não pode ser.
- Não ralhe comigo - supliquei.- Já sei que estou louco.
- Espere aí, não me venha com essa história. Não está nada louco, professor, até me parece que de louco não tem nada. É apenas racional de uma maneira estúpida, eis o que acho; exatamente como um professor.[...]"

Lobo da Estepe - Hermann Hesse

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Doença

Quando eu era somente um doente, a vida era mais fácil. Podia fantasiar-me de doutor e fingir diagnosticar os pacientes. Quando eu não estava são, era mais fácil. Vestir-me de bobo da corte, e brincar com as ironias da vida. Buscar o riso das pessoas. Buscar as situações fora o comum. Fazer por um momento a vida se tornar extraordinária e mágica.
Quando eu era doente. Era mais simples. Podia simplesmente culpar minha nobre doença. Podia julgar o mundo e ser absolvido pelos meus mau-hábitos.
Quando eu era doente, todos do salão me ouviam. Eu fazia sentido. As pessoas aplaudiam.
Era algo de se admirar. De se viver em paz. De nada sério.
Mas quando eu bebi aquela poção.
Com o tempo.
A doença sumiu.
Hoje sou doutor.
Hoje eu falo as mesmas coisas. Mas ninguém me ouve. Hoje eu brinco de bobo, mas ninguém me leva a sério. Eu procuro falar tanto quanto antes, mas as pessoas me condenam de insanidade.
Quando me curei. Quando finalmente vi a luz. As pessoas não me acompanharam.
Hoje vago pelo salão e as pessoas me viram o rosto.
Hoje as pessoas se afastam quando me escutam falar.
Hoje a vida extraordinária é chata e conspícua. Nada se faz novo.
Qualquer pergunta, antes dada como sábia, tornou-se supérflua.
De repente os meus companheiros me abandonaram.
Na minha solidão procuro aos poucos curar alguém.
Tratar aos poucos meus pacientes.
Tem muitos deles ultimamente.
Uns que vem de jaleco branco.
Uns que me forçam a tomar as opiniões deles por injeções.
Mal sabem eles, que não precisam disso.
Que eu aceitaria de bom grado, se me dessem a chance de falar.
Falar o quanto eu quisesse.
O quanto eu precisasse.
Arrancasse do peito todas as minhas duvidas.
E somente por um segundo alguém compartilhasse das mesmas perguntas.
E melhor ainda, uma resposta que finalmente me sacie.
Mas não.
Não é essa a realidade do mundo.
A realidade do mundo é esse calmante.
Essa camisa de força.
Que insistem em me fazer usar.
Aos poucos o efeito se misturam com meu mundo disforme.
Não reconheço mais minhas verdades.
Não consigo mais ficar doente.
Nesse sanatório que me prenderam sem me perguntar nada.
Só me resta dormir...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sindrome de não pertencer

Porra. Quando todas nossas opiniões parecem não achar lugar nos ouvidos dos amigos. Quando todos nossos questionamentos são tratados feito algo supérfluo e desnecessário. Claro. As respostas tão sempre ai. Simples. Senso comum.
Porra. Por que incomodar tanto, não é mesmo? Parece que questionar é sempre um fardo pesado na mente das pessoas.
Não se quer falar sobre. Não se quer pensar sobre. Discutir então, nem se fala. 
Ideias, ideias, ideias. De repente ninguém mais te entende. Tu fala e perde a vontade de continuar, pois percebe que ninguém quer te ouvir. 
E não adianta gritar, que as pessoas fecham os ouvidos.
Querem sempre no tempo certo. No lugar certo. 
Não querem aumentar, querem permanecer. 
Não sei. Cada vez mais perco a paciência com essas coisas.
Falta de interesse é o novo mal estar a civilização.
Tudo está bem, enquanto eu estiver bem.

Por que pessoas só fazem perguntas profundas quando algo de ruim acontece? E depois esquecem completamente sobre isso? 

Não quero respostas. Quero discussões. Quero ouvir e ser ouvido. Se eu acho difícil encontrar uma resposta que me satisfaça, como pode ser tão fácil para outras pessoas simplesmente aceitar certas situações? Respostas... Verdades... São substantivos que tem um peso tão gigantesco. E pessoas se atropelam para usar essas definições.

Respostas. Existem muitas elas por ai. Só falar com qualquer um.

Não sei nem por que me pergunto tanto o que todo mundo parece já saber.

Acho que nasci um grande mentecapto.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

It has been found again.
What? - Eternity
It is the sea fled away
With the sun.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Que fique aqui registrado.
Estou farto disso tudo.
É tempo de mudanças.
Que seja pra melhor.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

You were too lazy to learn to love until it was almost too late.To love ideally and tragically, Oh, you are certainly superb at that, I have no doubt about it, with all due respect! But now — now you will have to learn how to love a little commonly and humanly as well.

 Hermann Hesse “Steppenwolf

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

...se não aqui...

Cansei das mentiras.
Cansei do sofrer por nada.
Vou correr na direção que acredito ser a certa.

domingo, 22 de setembro de 2013

Ashes

Eu prezo pelo dia em que escreverei aqui um post diferente. Um que não se trate da escuridão do meu ser. Ainda espero que um dia eu consiga sentir-me tão bem a ponto de escrever um texto com plenitude.
Estou preso. Não sei como libertar-me. Eu dei passos em direção a luz. Eu mudei. Mudei tanto. Olho no espelho todo dia e cada vez mais pareço ser eu mesmo.
Mas o que mais falta? O que eu não estou enxergando?
Não me sinto nem um pouco satisfeito.
Não sei se algum dia me sentirei.
Eu sinto uma angustia muito forte em meu peito. Que não passa. Não some. Não acalanta.
Ela me consome por dentro. De noite. Quando eu acho que ta tudo bem, ela espreita pela penumbra. Assombra.
Eu não quero isso. É torturante. É como viver em constante tortura. Nunca estar bem. Nunca estar suficientemente bem. Ter uma felicidade tão frágil assim.
E ter que achar energia. Do nada. Para botar em movimento a vida. Os trabalhos. A faculdade.
E pra que?
Sinto-me alienado.
Descrente.
Sem um segundo de paz no meu mundo.
E tudo que eu consigo fazer é flutuar.
Deixar-me levar.
Porque cansei de lutar.
Cansei de fazer esforço para alcançar algo que só foge de mim.
Que quanto mais eu corro, mais longe parece estar.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

???

Queria poder povoar o mundo com minhas verdades. Ver espalhar-se pelo infinito a alegria de viver.
Eu estou apaixonado. Ou seria obcecado. Não sei ao certo ainda.
Uma inconstância sofrida, um a cada dia sentir algo diferente. 
Certezas que somem e duvidas que perduram. 
Certezas que aparecem e duvidas que me enforcam.
Eu quero tanta coisa. Eu me direcionei pra um objetivo. Eu acendi o pavio. E estou esperando a explosão pra me lançar.
Mas meu coração quer voar pra outra direção.
Não sei se por conveniência. Mas estou apaixonado.
É duro admitir, sendo que essa pessoa que eu conheço a tao pouco tempo, esteja alimentando tamanha obsessão. 
Mas é tao inalcançável. Inatingível. 
Não tenho nenhuma escolha.
E isso me frustra. Passei a vida treinando, questionando, preparando-me. Passei os ultimos anos procurando um teste, um lugar para direcionar esse sentimento. Para provar pra mim mesmo que eu mudei.
Mas esse lugar que eu fui achar, acabou sendo tao distante e tao frio. 
Esse sentimento cresce aos poucos, diminui, amadurece, brota de noite, me afoga, me beija. E só me resta o nada. O etéreo. O frio de inverno. Noites mal dormidas. E a exuberante incerteza. Os se's. As historias do limiar do sono. Os cenários imaginários.
E não é por falta de coragem. Não mais. Coragem brota do meu peito, ao me olhar no espelho e ver meu eu de tantos anos atras. O que se perdeu pelo caminho pelas dores do mundo. 
Eu voltei. E quero mais. Quero a plenitude. 
Mas como proceder com esses sentimentos tao ambíguos. 
Se eu tivesse as respostas. 
Pelo menos poderia continuar. 
Racionalmente o cenário é inevitável. O canhão vai explodir. Vou ser mandado pra longe. Pra um outro país. E não tem mais volta. O que eu vou sacrificar por mim mesmo. Crucificar meu eu estagnado, romber com todos os lacres que me prendem a um circulo vicioso. O novo. O inesperado. 
Ah se eu pudesse me dividir em dois. Em muitos. Arrombar todas as portas. Ganhar todos os premios. Perder tudo que tenho pra perder. Mas viver pleno. E com tudo que me é de direito.

Não quero ter que sacrificar mais nada.
Mas parece que se não sacrificar por algo maior, vou acabar perdendo inevitavelmente
E o que me resta...
O que?

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ilusão

Duvidas. 
Negação da própria sorte. Quando a lógica vira de cabeça pra baixo. O amor. É uma ilusão.
Sim. Duas pessoas são necessárias para criar um universo.
Para criar o amor.
O amor não passa de uma ilusão.
Quando duas pessoas enxergam a mesma ilusão.
O amor se torna real.
Mas quando só uma pessoa enxerga.
Não passa de uma piada cruel.
Uma goiva talhada no coração.
Um suspiro de morte.
Uma esperança torturante. 
Uma esperança que nunca morre.
Uma chama que nunca se apaga.
Mas incomoda. 
Não te deixa dormir a noite.
Mas é tão rara.
Tão bonita.
Que você não quer apagar.
Pois sabe que é difícil acende-la novamente.
Porém,
O que mais se pode fazer?
Ter fé? Lutar? Tentar?
Como?

Essa batalha perdida. Maldição.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Dusk

De volta ao passado. Os velhos enigmas. Antigas perguntas, nunca respondidas. O sentido que se perdeu com o tempo. Parece que tinha me esquecido sobre isso. Vaguei esses anos todos, em busca de novas experiências, procurando as respostas, mas esquecia de fazer as velhas perguntas. É, parece que os velhos dilemas acabavam sendo esquecidos, deixados de lado, suprimidos por uma inevitabilidade de novos dramas, novos questionamentos. Uma cadeia de perguntas sem respostas.
Mas de vez em quando paramos e olhamos pra trás e percebemos, que algumas repostas de velhos dilemas aos poucos são esclarecidos. De repente a resposta nos salta a mente e temos uma ideia mais ampla sobre os comos e porquês. Em síntese a resposta sempre esteve na minha frente. Nos meus sonhos. Onde beirando ao precipício eu me deixava cair com os braços abertos e os olhos fechados. 
Leap of faith.
É mais do que a filosofia da aposta. De apostar e dar um all in. Não. É preciso mudar o ponto de vista e olhar de outra forma isso. É o porquê de não pular. O Medo.
Tudo se volta à essa sombriedade. O desejo de pular sem direção vem diretamente do medo de arriscar. Passei minha vida nos quases, mas não por uma ironia do destino. Não. As oportunidades sempre estiveram lá. E foi preciso se perder nesse mapa para descobrir que todos os caminhos levavam ao mesmo lugar. Eu me traia constantemente. Quando estava prestes a ganhar, eu ficava com medo. Medo do que aconteceria depois da queda. Aonde eu iria cair? 
Sempre parei na borda. Olhava para baixo e via o que me aguardava e nada me satisfazia. Ou então eu acreditava.
Não. Não bastava saber, eu tinha que ser. Ser a minha filosofia. Pintar a mascara e sumir. Eu olhava no espelho e a mudança repentina me assustava. Mas no final não era essa a pergunta certa. Não era qual mascara era mais real, mas para que essas mascaras serviam? 
Para me afastar. Para me iludir. Me iludir com a ilusão da realidade. Sim. Eu me iludia constantemente sobre uma ilusão, e acabava deixando a realidade fugir por entre meus dedos.
Procurava sem fim por um sinal de luz nessa escuridão, quando eu mal percebia que sim, estava de noite. Mas não estava vagando sem rumo. Não. A luz estava pra chegar.
Eu não estava mais perdido.
Dar o passo pra frente e descobrir que o precipício não está la. Nunca esteve. 
Não basta esperar a luz pra dar o passo. 
Nem tudo esta claro, e nem deve estar. O anoitecer. Eu tenho que começar a aceitar isso. Que depois de todo dia, vem a noite.
Aceitar a roleta do destino. Apostar no zero e torcer para que quando a roleta parar eu ganhe o premio maior.
Não. Não é uma aposta.
É estar disposto a aceitar o que vier.
O ganhar, o perder. 
Não importa o resultado, não é?
Enquanto não se sabe o resultado, não importa se ganha ou se perde.
Essa mutabilidade, essa inexatidão. 
É o drama da vida. A corda com que eu me enforco. O tesouro dentro de um baú nunca aberto.
É girar a chave mas não abrir a porta.
Os quases, sempre fui eu o cego.
Está de noite ainda.
Mas não tanto.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Interludio

Há muito que as coisas andam devagar.
Uma sensação de dever cumprido ou de calma antes da tempestade.
Está tudo bem.
Algumas coisas mudaram. Iniciei um processo e aos poucos sinto meus muros caindo.
As provações andam difíceis, mas a cada dia percebo que estou um passo mais próximo.
Não sei quanto ao final, quanto ao resultado.
Mas permanecer onde eu estava. não dava mais.
Tive que sair, fugir, reinventar.
Desaprender tudo que aprendi e aprender novas habilidades.
Estou jogando fora o que nunca me serviu, e procurando novos quadros para essa galeria vazia.
Espero não parar de escrever aqui.
Mas se esse for o preço que tenho que pagar.
Que seja.

Estou alcançando um novo horizonte.

sábado, 16 de março de 2013

"Mas seu coração vivia em constante, turbulenta, agitação. Os conceitos mais fantásticos e grotescos perseguiam-no, à noite, em seu leito. Um universo de inefável pomposidade desenrolava-se em seu cérebro, enquanto ouvia o tique-taque do relógio sobre o lavatório e a lua inundava, com sua única claridade, as suas roupas, amontoadas no chão. Cada noite ele acrescentava algo às suas fantasias, até que a sonolência descia sobre alguma cena vívida com o seu manto do esquecimento. Durante algum tempo, esses devaneios proporcionavam uma válvula de escape à sua imaginação; eram uma sugestão satisfatória da irrealidade da realidade, uma promessa de que o rochedo do mundo se apoiava com segurança sobre uma asa encantada"

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

sexta-feira, 8 de março de 2013

"Seus olhos cinzentos, um tanto contraídos, fitavam o caminho, mas ela havia, deliberadamente, modificado o caráter de nossas relações - e, por um momento, julguei que a amava. Mas sou um sujeito de raciocínio lento e cheio de regras interiores que agem como freios sobre os meus desejos - e eu sabia que primeiro teria de desembaraçar-me completamente, quando voltasse para casa, da complicação em que me achava. Eu vinha escrevendo uma vez por semana, cartas que terminavam assim: "Com amor, Nick" - e só o que eu conseguia pensar era no leve bigode de transpiração que aparecia sobre o lábio superior de uma certa garota, quando ela jogava tênis. Não obstante, havia entre nós um vago entendimento, que precisaria ser rompido com tato, antes que eu pudesse sentir-me livre.
Cada um de nós desconfia que possui pelo menos uma das virtudes cardinais - e a minha era esta: sou uma das poucas criaturas honestas que jamais conheci."

O grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um sentimento me consome. Um pavor bucólico. Uma angústia. Me devora por dentro. Um sentimento como estar a beira de um precipício. E o precipício me convidando à pular. Uma angustia que eu necessito de algo mais. Dor. Qualquer coisa física. Qualquer sumidouro que escape, que flua, essa angustia. Esse amor sangrento. Essa paixão frívola e inexorável. Eu preciso de menos. Menos ar. Menos batimentos. Eu não sei. O sentimento aparece e piora e me desilude. A certeza. Os becos sem saídas. Esse andar, descaminhar, perdidamente pelo escuro, sem uma vela sequer. Os barulhos, a tentação, o movimento. Eu quero parar. parar. achar algum lugar seguro. Um lugar seguro. Só isso. Um lugar, em que eu possa me sentar, me despreocupar. Um momento em que eu saiba que tudo está certo. Tudo está em paz. Que posso pensar em nada por 5 minutos. Ou 10. Ou uma vida inteira.
Quero o marasmo do mar. O vento do outro lado do mundo. O café amargo de manhã cedo. O álcool noturno. As cartas de viagem. As lembranças guardadas dentro de um baú. Perdidas, para nunca serem encontradas.
Quero deixar esse mundo para trás. Sumir. Me reencontrar.
Abandonar essas tentativas fracassadas de ser feliz pela metade. De querer e ter medo.
To cansado de ter medo. De ser parado.
De não bater na porta quando o desejo é arromba-la.
Quero que o mundo exploda, e quero que meu mundo seja você.
Perigo, perigo, perigo.
Palavras de mais.
Jogadas aos quatro cantos.

Mas só palavras.
Nunca ações.
Nunca gestos.
Nunca real.

Palavras, nunca faladas. Sempre escritas.
A irrealidade fugaz.
O sonho se esvaindo pelo amanhecer do dia.

A lua vermelha no céu, tão escura quanto esse vinho de segunda mão.
Só não mais doce que minha vida e meu amor, e meu sangue.
Que jaz esparramado no chão.
Ou seria vinho?

Que sei eu?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Un, Deux ...

Faz um bom tempo que não escrevo aqui. Gostaria de dizer que foi por falta de tempo, mas tempo foi algo que sobrou, e muito, durante os últimos meses. Se teve algo que preencheu meus dias, foi o tédio.
Porém um bom tempo sozinho as vezes é bom. Sem nada à fazer. Sem nenhuma preocupação. Bom, bom bom. Ainda mais com a agitação que aconteceram nos últimos meses de 2012. Começar o ano relaxando e recobrando a paz de espírito é algo que, meio que forçadamente, acabou sendo bom. Diferente dos outros anos em que o tédio me consumia vivo e minhas ansiedades me dominavam, enquanto eu acabava por cometer erros estúpidos e decisões erradas. Essas foram férias simples, e na feliz simplicidade cotidiana. O tédio não se  tornou um estorvo como antigamente. Torna-se quase um tédio merecido.
Sinceramente, relembrando agora meus finais de ano desde 2007, sinto que não tive uma férias sequer em que eu não estivesse relativamente depressivo e melancólico. Acho que estou melhorando bastante nessa questão.
A euforia passa devagar. Com o fechar dos olhos e a correnteza de pensamentos fluindo e dando espaço a calma e a paz. As vezes parece tão simples, e nem parece real. Me sinto um espantalho quando penso assim.
Quer dizer, ainda é um longo caminho. Não sinto como se estivesse perto de conseguir algo. Porém sinto que estou bastante longe de onde um dia eu já estive. Isso é um pouco triste, mas ainda assim um motivo para se sentir bem. Como todos sinto vontades imensas de de repente conseguir retomar e apagar certos erros do passado. Antigamente gostava de estufar o peito e gritar que não tinha arrependimentos. Porém hoje em dia sinto que era minha maneira de fugir das consequências dos meus próprios atos.
Como uma vez um amigo disse "Até seu jeito de estar errado, você faz parecer certo".
Mais e mais coisas na lista do que é esse ser chamado Sérgio.
Também estou tentando descobrir pouco a pouco.
As vezes parece inefável, mas eu sei que é só meu drama sendo drama.
Quero entender. Até que ponto estou certo.
Minhas certezas mais e mais parecem estar certas só na minha mente.
As duvidas me obscurecem a razão.
E por mais preocupado que eu esteja, no mais estou feliz.
Cotidianamente feliz.
Esperando aquele bilhete premiado da loteria.
A profecia duradoura.
A tempestade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

      "Se a história tcheca pudesse se repetir, seria certamente interessante experimentar a cada vez a outra alternativa e em seguida comparar os dois resultados. Como essa experiência não pode ser feita, todos os raciocínios são apenas um jogo de hipóteses.
      Einmal ist keinmal. Uma vez não conta. Uma vez é nunca. A história da Boêmia não vai se repetir uma segunda vez, nem a história da Europa. A história da Boêmia e a história da Europa são dois esboços que a inexperiência fatal da humanidade traçou. A história é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que voa, como uma coisa que vai desaparecer amanhã.
      Tomas pensou mais uma vez com uma espécia de nostalgia, quase com amor, no jornalista da silhueta alta e curvada. Esse homem agia como se a história não fosse um esboço, mas um quadro terminado. Agia como se tudo o que fizesse fosse se repetir um número incalculável de vezes no eterno retorno, e estava certo de que nunca iria ter duvidas sobre seus atos. Estava persuadido que tinha razão e isso não era nele sinal de um espírito limitado, mas uma marca de virtude. Ele vivia numa história diferente da de Tomas: numa história que não era (ou não tinha consciência de ser) um esboço."

A insustentável leveza do Ser - Milan Kundera
"(São sempre as mesmas perguntas que desde a infância passam pela cabeça de Tereza. Porque as perguntas realmente sérias são apenas aquelas que uma criança pode formular. Só as perguntas mais ingênuas são realmente perguntas sérias. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é uma cancela além da qual não há mais caminhos. Em outras palavras: São precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência)"

A insustentável leveza do Ser - Milan Kundera