domingo, 27 de novembro de 2016

Ácido

O gosto desce queimando em minha garganta. Não me sinto bem. Focalizo toda minha aflição. Um grito de desespero ecoa pelos corredores dentro de mim. De repente me vejo só, num mundo frio. Os corações que passam ao redor, parecem pedras, afiadas, que te cortam sem querer (as vezes mesmo por querer). Tento me moldar, tento deixar as coisas fluirem a contento. Não subo a correnteza, tendo me deixar levar. Mas o gosto. Continua. O medo de um futuro que parece ser só isso. 24 anos de sonho, de aspiração. O desejo bate mais forte dentro de mim. Um amor, uma vida a dois, me encontrar no outro. Mas que outro? Não acho outro. Tudo que acho está petrificado, preso num espelho sem reflexo. Um espelho que agora parece trincado e que não importa o que tu faça, só consegues olhar aquela falha na imagem vazia. Não me reconheço. Não reconheço ninguem. Estou ficando louco? Onde estão aquelas velhas certeza, aquele murmuro que diz que vai ficar tudo bem? Uma descrença enorme me acomete. Sinto o mundo cair nas minhas costas. E eu sou esmagado, sem força, sem tempo pra respirar, tragando cada vez mais desse liquido. Não me faz bem. Mas não existe outra opção. Não nesse mundo. Não nesse caos. Não nesse circulo do inferno. Só quero panaceia.

domingo, 13 de novembro de 2016

O Temporal

Vem sem avisar. Permanece enquanto pode e te encharca. Por dentro e por fora, Te afoga com um gosto amargo de cigarro. Te leva ao extase e depois desaparece como uma chuva de verao. Vira teu mundo de cabeça pra baixo e eu começo a me perguntar se nao era assim que deveria ser. Os quadros voando com cheiro de suor, ainda me deixam confusos. Canso de pensar. Me deixo levar pela onda abstrata. O mundo nunca teve sentido mesmo, pra que tentar achar razão. Não importa o que está certo agora, o que me importa é que nunca me senti tão vivo. Tão em paz. Mas são algumas horas de sonho. Algumas horas de sono. Estou acordado? A dor que sinto se mistura com um prazer intenso. Como quem se embebeda antes de grande batalha. E a batalha nunca chega. A sensação de preso numa armadilha que a qualquer hora pode trazer tudo a perder. A corda bamba do destino. A roleta russa onde todos perdem. O temporal que vem como uma lufada de ar quente e desaparece com um frio da solidão noturna. Mas o que me trouxe isso de bom? Ainda é dificil dizer. Só sinto que não sou o mesmo. Só sinto que cada vez que ela passa. Meu coração para de bater por 5 segundos. E quando vejo não sou mais o mesmo. Não sou eu. Sou algo novo. Algo inominável. Algo que gosto de ser. Então continue. Até nao poder mais. Até tudo acabar. E que o fim seja só o início de mais uma nova tempestade de verão.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Um menino chora de madrugada. Escuto-o chorar como se estivesse no meu proprio quarto. Acordo assustado e me levanto. As forças me traem e percebo que nunca me levantei. O choro começa a aumentar de tom, quase como uma musica antiga. Sinto vontade de chorar também. A luz entra por uma fresta da janela. Ja é dia. Mais um dia e tenho que levantar. A vida começa. A rotina de trabalhos, dores, amores. A busca incessável por algo fugaz, que aparece e desaparece como o menino que chorava. Não o escuto durante o dia. Passo pelas casas da cidade, os rostos do transporte publico, o portão que separa os trabalhadores do povo comum. Sento-me na cadeira e começo a viver. As horas passam deslizando pelos meus olhos. Uma vontade subita aparece em meu estomago. Uma tempestade que me faz perder o chão. Sinto que estou caindo, mas continuo sentado. Estou sozinho de novo. A cortina se encerra e me vejo preso nessa escuridão novamente. O choro que havia esquecido ressurge como um sussuro de plano de fundo. Finjo não ouvir. Ignoro enquanto posso. As pessoas passam novamente sorrindo. Uma musica cada vez mais alta me impede de pensar. O ar começa a ficar pesado. Sinto que vai chover. Ainda assim decido ir andando pra casa. De repente o choro fica mais forte. A voz fica mais alta, parecendo gritar. Meu coração dispara. Passo pela casa que nunca conheci quem mora, mas a vontade de entrar é grande. Paro por 2 segundos e observo. Devo? Não. Esqueço esse pensamento como quem esquece as magoas do passado. Continuo a caminhar com o coração aflito. Chego finalmente em casa (casa? sei mesmo o que é isso?) e espero a chuva chegar. Fecho as cortinas e deixo somente uma frestra pro ar passar. Deito na cama e penso no menino chorando. Ele está em silencio novamente. Vejo as sombras que se formam com o passar dos carros da rua. Começo a me perguntar se realmente consegui levantar aquele momento. Se não estou ainda pesado, sem forças, preso em meu mundo que parece nunca fazer sentido. O menino ainda em silencio parece ter desaparecido. Um sentimento de extrema solidão parece brotar. Não tenho nem mais meus fantasmas. Não tenho nem mais a mim mesmo. Perdi alguma coisa em algum lugar. O silencio da madrugada fere meus ouvidos. Só me resta rezar pro sono vir. E amanhã. Levantar novamente. Até o dia em que as forças me faltarem.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estiagem

Há dias que não chove. E ainda assim me sinto completamente encharcado. Segui todos os caminhos possiveis. Todas as direções dos que me guiaram. Por um tempo me senti bem. Olhava com esperança para o futuro. Mas o tempo fecha. O sol de repente some. Mas nunca chove. A falta da chuva parece quase inotável. Muitos comemoram, muitos ficam receosos. Eu só me sinto só. Me sinto só porque chove sem parar dentro de mim. Uma tempestade que fingi não notar, que ouvia somente os trovejares por traz de tudo que eu faço. Todas as manhãs, as noites de sono mal dormidas. Os pesadelos constantes. O orgulho e o amor de tantos não entram. Os bons desejos, as boas sortes. Tudo fica de fora.
Há dias que não chove. E ainda assim me sinto sóbreo. Com um mau gosto na boca que não sai, nem com doce, nem com tabaco. As gotas de chuva parecem constantes em mim, mas olho pro céu e vejo nuvens brancas que se transfiguram em uma profecia. De repente parece certo, a solidão é o meu fim. Toda aquela luz, aquela força que eu sentia. Se perderam em alguma gaveta dentro de meu ser. E procurar me parece trabalhoso demais.
Há dias que não chove. E ainda me falta o ar. Percebo que estou me segurando há quanto tempo? Quantos dias, meses, seculos. Esse ar que me sufoca. Tento respirar, mas tudo que vem é uma massa quente que parece me matar aos poucos. Busco pelos cantos alguma ajuda, algum profeta que me diga, "há tudo de melhorar". Mas a vida segue. E não encontro nem paz, nem caes.
Há dias que não chove. E ainda me falta você

terça-feira, 12 de julho de 2016

Tempo e fé

Corre depressa e despercebido, mas quando notado parece estar sempre lá. Começa a desacelerar e aos poucos parece uma infinidade até o proximo instante. Começo a querer que o tempo corra, mas ele pesa cada vez mais em minhas costas. Quando está de bom humor, quase não noto. Quando acordou do lado errado, da um aperto no coração. A alma parece querer fugir. Um sentimento de claustrofobia temporal. Como se o tempo fosse apertado demais. Sem ar. Sufocado. Sei que tenho que esperar. Sei que aos poucos as mudanças acontecem. Que os pequenos avanços são a chave. Ter fé é o ato de abandonar o tempo. Porque para ter fé, é preciso que ela resista e persista e não se desfaça. É ousado comprar essa briga. O tempo vive a derrubar a esperança com extrema facilidade. Parece que basta um segundo errado. Um segundo nunca esquecido. Um segundo que te assombra. E a esperança perde todas as forças. Vive com medo do tempo. Do segundo que chegará e abalará toda sua fundação. Acorda e dorme todos os dias assustado, com medo de que sua fé seja abalada. A fé deve ser tão cega, que nem segundo passará a ser notado. Nem tempo. Nem eternidade. Essa esperança, pra sobreviver deve ter a coragem de ir contra o tempo. E o tempo é sagaz e não se importa de esperar. As vezes parece uma tortura. As vezes parece não valer a pena. Uma perda de tempo.
Mas o que mais posso fazer com meu tempo? Se não me afundar nessa esperança?

domingo, 29 de maio de 2016

Paisagens Noturnas

Um grito no meio da noite. Meu? Ou seu?
Acordo assustado, suor frio, coração acelerado. E percebo que não estou em casa. Acordo perdido, não consigo ver nada. O desespero me consome. Procuro algo. Mas não me recordo o que. Procuro desesperadamente. Não consigo achar. Começo a procurar pelo chão. Vou cavando até minhas unhas sangrarem. Nada. Começa a chover (ou já estava chovendo só não percebi?) e a lama começa a afundar sobre meus pés. Só consigo afundar aos poucos. Um pouco mais de desespero. Um pouco menos de ar. Meu coração parece sair do meu corpo. "Você falhou" ele me diz e parte para a escuridão. Leve-me daqui. Esqueça isso tudo.
Minha mente divaga entre fantasmas do passado. Aqueles que se foram e os que me abandonaram no meio do caminho. Todas as desistências. Todas as dores. Tomavam forma e assistiam minha derrota. Mentiras e mais mentiras. Enevoando minha mente.
"Ele podia ter tentado mais. Ele podia ter mudado", escuto uma voz vinda das sombras. "Ele não era quem você achava que era".
Uma musica começa a tocar no fundo. Como um hino de igreja. Sinos. Tambores. Trovão.
Não suporto mais. Surto. Quero respirar. Quero sair. Aos poucos as sombras que me assistiam me envolvem. Transfiguram-se em correntes que me apertam cada vez mais. Não sinto nada. Só caio. Afundo. Junto minhas ultimas forças e grito. "Não é real. Não é real. Não é real."
Um grito no meio da noite. Meu? Ou seu?

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Afogado

O terror continua. Depois de 1 mes, me perco ainda na estrada. A luz ainda me parece escura. O sol brilha no céu, mas não esquenta. Os pingos de chuva não parecem molhar. E o frio, parece constante. Confundo o inverno com minha alma e coração. A cada amanhecer, um gosto amargo na boca que nem os deuses conseguem tirar. Aquela sensação de fracasso. De que, há muito, o tempo anda zombando de ti. Afundo nisso tudo e me deixo levar pela correnteza. Olhos por todos os lados não parecem me enxergar. Os gritos abafados parecem morrer logo ao sair de meus pulmões, dando lugar às cinzas e fumaça e agua salgada. Mas bebo como se nao tivesse volta. Como se tudo que eu precisasse fosse um final. Uma destruição pequena. Uma destruição grande. Os fantasmas já estão cansados de assombrar. Não tenho mais animo pra sentir medo. Só me deixo levar por essa nova onda. Compactuo com o diabo pela alegria de um sorriso. Deixo a luz aos poucos desaparecer. Só um pouco. Só o suficiente pra me deixar cair nesse pesadelo de sempre. Esse ciclo vicioso de intento e descontento. Queria que tudo fosse certo, mas nada o é. Quero fugir, sumir. Não aguento mais esse cenário, essa escuridão, essa luz. Só há isso no mundo? Esse eterno impasse entre ser e não ser. Mudar. Melhorar. Estou exausto de lutar. Exausto. Afogado com meu proprio sangue.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Desespero

"Um monstro" ele disse. Mal sabia que o monstro era eu. Perdido em meio à todas minhas desculpas e sonhos. Perdi a calma, perdi a humanidade. Falhei comigo mesmo e deixei as trevas entrarem. Sempre soube que elas existiam. Sempre soube que estavam lá. Mas sempre estavam monitoradas, presas, observadas. Nunca pensei que aos poucos, essas trevas me intoxicariam. Que aos poucos me fariam machucar as pessoas que amo. Ou talvez seja só minha ilusão.
Já aconteceu antigamente nao? Meu despreparo, minha angustia, minha ansiedade. Fizeram amigos proximos se afastarem. E hoje. Hoje, vejo o quanto eu não sou nada do que eu sempre pensei que fui.
O coringa da carta do baralho? Só que ninguem me contou da face sengrenta do harlequino disfarçado. A Obssesão, O medo. A raiva. E que raiva. Um ser monstruoso me consome por dentro, sussura nos meus ouvidos, escurece minha mente.
Não sei mais o que sou. Não sei mais quem sou. Estou perdido no meio desse mar de incertezas.
Me tornei um Monstro. Um monstro que sempre evitei ser. Um monstro que nunca quis que existisse.
Mas que sempre esteve lá. Sendo alimentado aos poucos. Escondido entre as verdades que procurei. Escondido entre a paixão pelo eterno e pelo destino.
Só sei que errei. Errei muito. Errei de uma maneira que não podia ter errado. Passei todos os limites.
Explodi com o mundo e com minha vida.
Eu não sei mais quem sou.
Sempre me considerei uma pessoa boa. Uma alma boa.
Mas nunca que alguem que seja bom tenha feito o que eu fiz. O que eu faço.
Estou só me enganando? Será essa minha forca? Meu destino é sucumbir a essas trevas e viver uma vida de obsessao e de desespero?
Não quero acreditar nisso.
Não quero mais esse mundo cinza.
Deixe a luz entrar.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

1922

"Vou compartilhar algo que aprendi em 1922: tudo sempre pode piorar. Há horas em que você acha que já viu a coisa mais terrível que podia acontecer, aquilo que parece reunir todos os seus pesadelos em uma especie de horror medonho e real, e o unico consolo é que não pode existir nada pior. E, mesmo que haja, você vai enlouquecer se essa coisa acontecer, e não terá mais que pensar nisso. Mas existe algo pior, você não surta e de algum modo segue em frente. Você pode acreditar que toda a alegria do mundo acabou, que o que você fez deixou tudo o que esperava ganhar fora do seu alcance, pode até desejar que fosse você que estivesse morto - mas segue em frente. Percebe que está em um inferno que você mesmo criou, mas segue em frente mesmo assim. Porque não há outra opção."

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre o cinza (entre outras coisas)

2015 foi um ano bosta. Não tem outro jeito de se colocar. Foi um ano de brigas, discussões. O Mundo andava parado, o disco arranhado e o futuro parecia congelado como quem não tem horario pra festar. Amanhece o dia chuvoso de 2016 e os ventos e as promessas novas são sussurradas aos 4 ventos. Mudanças. O Futuro começa a descongelar, e junto com ele, as palavras parecem querer sair pelas pontas de meus dedos. Uma insonia funebre que há muito não sentia, como um desespero leve que sempre foi meu combustivel para escrever. Vomitar minhas trevas, explodir com o mundo e esganar esse fantasma que parece mais vivo do que nunca escondido no meio desse emaranhado de letras.
Esse ano começou com um fantasma de um 2015 já enterrado que parece querer dar seus ultimos suspiros. Caos, tormenta, perdição deram suas caras. Mas eu particularmente não acredito que seja a nova face desse ano. Acredito que o que está chegando será maior. Muito maior. E que aos poucos o mundo está entrando nos eixos. Aos poucos esses tons de cinzas ganham cor atraves dos meus olhos. E eu sinto vontade de colorir o resto. De abrir as janelas e deixar o sol entrar. E se tiver chovendo que molhe a casa inteira. Mas eu quero o ar fresco. Eu quero poder respirar de novo. O ar empoeirado desse castelo que foi construido sabe Deus há quanto tempo. Com a luz batendo em meus grilhões que foram sempre minha companhia, sinto de repente a urgencia de voar. Uma agonia inexorável que me motiva a pular, a espernear, a amar esse caos. Que toma cada vez mais folego nessa tormenta e em meu desespero e finalmente diz: Chega!
Eu cansei de nunca ser o suficiente. Eu cansei de viver com migalhas, dançar no escuro pra que ninguem me veja, cantar na solidão para que ninguem me escute. Fingir esquecer de minhas asas para que não parta por esse mundo e abandone... o que mesmo?  Nem sei mais.
Aos poucos esses grilhões se dissipam e vejo que sempre estiveram presos somente aos meus medos e paranoias. Talvez nem tanto meus. Mas que sempre estiveram por perto. Me sufocando. E que aos poucos tomaram a minha vida e tiraram as cores do meu mundo.
Não...
Não quero mais esse mundo cinza.
Eu quero o sol. Eu quero todas as cores. Pra esse ano que nasce no leste
Eu quero plenitude...