segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sobre ter 19 anos (e algumas outras coisas)

"Em 1967, eu não fazia a menor ideia do tipo de história que poderia escrever, mas não importava; confiava que ia reconhecê-la quando ela cruzasse comigo na rua. Tinha 19 anos e arrogância. Sem dúvida arrogância suficiente para achar que podia cozinhar um pouco minha inspiração e minha obra-prima (como tinha certeza que haveria de ser). Acredito que aos 19 a pessoa tem o direito de ser arrogante; geralmente o tempo ainda não começou suas furtivas e infames subtrações[...]Dezenove é a idade em que você diz: Cuidado, mundo, estou fumando tnt e bebendo dinamite, por isso, se você sabe o que é bom pra você, saia do meu caminho... aí vai o Stevie.

Os 19 são uma idade egoísta, que restringe severamente as preocupações da pessoa. Eu tinha muita coisa na minha frente e era o que me importava. Tinha muita ambição e era o que me importava. Tinha uma máquina de escrever que carregava de uma porra de apartamento pra outra, sempre com alguma coisa para fumar no bolso e um sorriso na cara. Os compromissos da meia-idade estavam longe, os ultrajes da idade avançada, além do horizonte. Como o protagonista daquela música de Bob Seger, que agora eles usam para vender caminhões, eu me sentia infinitamente poderoso e infinitamente otimista; meu bolso (estava vazio, mas a cabeça estava cheia de coisas que eu queria dizer e o coração cheio das histórias que queria contar. Parece sentimentalóide agora; soava maravilhoso então. Soava muito tranquilo. Mais que tudo, eu queria penetrar nas defesas dos meus leitores, queria rompê-las, capturá-las e trocá-las, para o resto da vida, por nada mais que histó­rias. E sentia que podia fazer essas coisas. Sentia que tinha sido feito para fazer essas coisas.

[...]
Aos 19, podem mandar você parar no acosta­mento, sair da porra do carro, levar sua dolorida queixa (e sua bunda ainda mais dolorida) para o meio da estrada, mas não podem apreendê-lo quando você senta para pintar um quadro, escrever um poema ou contar uma história, pelo amor de Deus, e se por acaso você, que está lendo isto, é ainda muito novo, não deixe os mais velhos e suposta-mente mais vividos lhe dizerem nada diferente. Certo, você nunca es­teve em Paris. Não, você nunca correu com os touros em Pamplona. Claro, você é um moleque que três anos atrás ainda não tinha cabelo debaixo do braço... mas e daí? Se você não começa grande demais para sua calça, como vai caber dentro dela quando crescer? Deixe que ela rasgue, não importa o que os outros digam, esse é o meu ponto de vista; sente-se e fume a calça."

-Stephen King

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Há quem decore a vida na ponta da língua, outros rabiscam o próximo passo na ponta do acaso

Aqui, nessa estação, onde um outono instrumental inspira a queda das palavras, minha força escorre poemas pelo cedro desse palco, assim como meus pés cravam a fidelidade aos sonhos desses guris atrevidos que aqui brotarão virtuosos, aguerridos com seus estilingues de cordas vocais de nylon e de aço, apedrejando a covardia dos homens secretos a si.
Fábula em partituras da Gata de Botas! Maria e seus Joões cantam o caminho de volta para o íntimo, hasteiam leves uma bandeira toda bordada de mocidade, doces rendas melódicas, ponto a ponto terras descobertas, a cada acorde um ensaio para acordar um moço jeito de existir. Sem a intenção de trocar de mundo, apenas unir quem não coube em sua acidez.
Inventemos aqui, nesse solo fértil, veraneio da arte, palco do palhaço “ Randevu”, um baile de amigos empleno velório do falecido monstro que cobria o horizonte de quem ama o que se pode ser. Aqui jazz uma solidão ignorante. Naufragam agora todas as farsas escritas pelo cão. Dionísio, arauto de tudo que se une fantasticamente, abre alas desse concerto para os desconcertados se banharem. A partir de hoje uma nau de solidão navegará aliviada dos apegos impossíveis, e uma nova geração desvendará a ilha daqueles que sonham antes de dormir.
Notas serão como uma leve pluma, lançadas ao vento com destino certo: afago no espírito, cócegas na alma, mimo na paz, inibir agonias, afrouxar todo o receio de ser devaneador. Na Rua do Acalanto, primeiro peito franco à direita, casa de janelas sempre abertas e dispostas ao novo, jardim de lindas rosas de espinhos prósperos, varanda ao infinito, mansão cor de legítimo coração, em frente ao público dessa nossa solidão. Ali a pena dançará e nenhuma câimbra na felicidade, nem faíscas de isolamento nos fará desistir de estarmos “todos juntos”.

-Caio Sóh no Dvd da Maria Gadú

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Bons ventos, ar puro e frio

Depois do que pareceram duas semanas agitadas emocionalmente, um alivio, um descanço finalmente. Um peso enorme parece ter caido e um momento de paz se instaura por pouco. Ultimamente ando aprendendo a aproveitar esses momentos. Momentos que você pode acordar e dormir sem preocupações e pode tomar um belo banho quente e ficar alguns momentos sem pensar em nada soh vendo a agua escorrer. fechar os olhos e simplesmente não desejar estar em nenhum outro lugar, fazendo outra coisa com outras pessoas. Um bom tempo. Uma calmaria. talvez seja essa chegada de inverno, esse ar frio que parece deixar tudo mais lento. Que cada respiração se torna difícil mas ao mesmo tempo mais vívida. É esses dias são especiais e merecidos. Renovam a nossa fé, nos fazem otimistas e ajudam a acreditar que as coisas podem dar certo afinal, mesmo que certas coisas ainda pareçam obscuras. Ah os ventos estão a meu favor, a vontade de navegar cada vez mais pra um destino que nem eu pareço conhecer, em busca de um sonho branco, como aquele velho capitão resmungão Ahab e seu desejo incrivel por vingança pela baleia que ferira seu orgulho. é talvez seja tempo, de navegar e procurar mais um pouco. Aquele sonho branco.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vazão

Não me aguentei e tive que postar novamente. De repente um vislumbre, uma nostalgia do passado me acometeu. Não sei se são os fatos triviais que andam acontecendo na minha vida, certos encontros, pessoas do meu passado. O que eu acho mais interessante é como essas pessoas ainda vivem na minha vida, como um passado vivo que está lá, por mais que esteja longe, está lá. Por mais que a vida as vezes pareça um seriado de televisão onde de repente nos vemos numa "nova temporada" com um grupo completamente novo de pessoas, com outros objetivos, novos problemas, não é bem assim que as coisas acontecem. Está tudo acontecendo ao mesmo tempo. Tudo real, vivo, pulsando. E hoje em dia eu sinto isso muito mais forte. Essa ligação. De como as coisas nunca acabam. De como as coisas de repente voltam, e se transformam em coisas novas, e quando você percebe você é algo novo, e isso não é ruim. Muito pelo contrário, você se transforma, se eleva a outros niveis, aprende a trabalhar com o melhor de si, e nunca volta ao tamanho normal. E é isso que eu acho incrivel, e é isso que eu prezo. Nisso que eu acredito, nesse aprender constante, nesse extrair o maximo de tudo que for te dado, por mais que não seja tudo aquilo que você gostaria ou deseja no momento. E muitas vezes você descobre que era aquilo que você precisava, que por mais que tudo pareça um inferno, que você não ve uma saída para aquilo que está atravacando seu caminho, mas no fim a vida continua, por mais que agente seja forçado e atropelado por ela, agente aprende muito. E eu realmente me sinto estupefato, com essa quantidade de experiencias que a vida pode surgir. Não é algo magico, acho que ultimamente ando muito mais cético do que gostaria. Mas não é algo sem motivo. Não. Existe uma razão pras coisas acontecerem. Talvez não seja uma razão divina, mas com certeza há uma razão, mesmo que seja uma razão trivial. E é isso que de certa forma me move, não por acreditar num futuro certo, mas pela certeza do futuro incerto que me impressiona cada vez mais. As coisas mudam. As pessoas nos surpreendem. E quando você menos espera, está ai batendo na sua porta, aquilo que vai mudar a sua vida.

Náufrago

Sufoco-me nesse sentimento cálido. Um desespero me toma conta e todo tempo do mundo é pouco tempo pra tudo que quero fazer. Tudo que quero tentar. Tudo que quero analisar. O mundo não espera. O Mundo me atropela. Me trouxe algo e esse algo está tão proximo, está tão perto. Mas tantas outras vezes não esteve também? E que horrivel desfecho se fechou? O que era, não passava da minha ignorancia e inoscencia. Meus enganos, meus erros e minha fé cega numa justiça. Não. Não quero acreditar nisso, não quero deixar essa pessoa perto. Perto o bastante pra me machucar. Perto o bastante pra me desiludir. Por mais que tudo parece ser real, sempre parece não é? Não quero me precipitar, não quero olhar e ver essa pessoa virando os olhos pra mim, não quero ve-la olhando para outra pessoa. Não quero acreditar que tenho alguma chance. Me falha essa expectativa, essa esperança pequena mas que ainda corrói. E de todos os sorrisos, de todos os olhares, de todos os encontros casuais. Não passarem de algo completamente trivial. Não não quero correr esse risco. Até onde é seguro ir? Até que distancia da praia meu barco deve navegar para se sentir livre? Posso encontrar a terra e o mundo se simplesmente velejar sem me preocupar. Mas meu barco já afundou diversas vezes, quando todos os ventos pareciam favoráveis. Parece que estou simplesmente cansado de remar.