segunda-feira, 18 de março de 2019

Prólogo

Sento-me novamente em frente a essa tela e me parece um mundo completamente estranho. Faz tempo que não mergulho novamente nessas águas. Não sentia necessidade. Minhas trevas, meu passado, todas as minhas sombras, parecem fazer parte de mim. Carrego-as para os lugares e nos sentamos no banco de uma praça mal iluminada e conversamos como velhos amigos presos numa história que ninguém vai ler.
Substitui essa tela por novos vícios. Substitui minhas paranóias pelo simples fechar de uma porta. Olho para o passado como quem olha para um livro terminado, empoeirado em uma prateleira. Nunca julgado, mas simplesmente estático, imutável, uma lembrança que não abro mais. Não por medo ou dor ou amargura, mas pela sensação de que não há mais necessidade de abrir. 
Ao mesmo tempo, vejo uma nova história se iniciando. Um novo ciclo subindo no horizonte. A sensação de terror me acomete aos poucos, mas logo me lembro de tudo que me trouxe até aqui. Não sei o que o futuro me espera. Não sei o que a esperança me trará, se é que trará algo. Durmo mal a noite, acordo cansado, preso e estagnado, mas a sensação de rompimento é real. 
Um novo livro está se iniciando. Até novos personagens aos poucos vão se apresentando. Iniciam um musical em minha mente, mas estão quase inaudíveis. 
Canta e ri e pula e tropeça. O bobo da corte pressagia um novo conto. Uma nova tragédia. Uma nova comédia. 
Talvez por isso esteja aqui de novo. Talvez por isso esteja com essas palavras me inundando. 
Sinto um desejo dentro de mim. 
E o horizonte de repente parece um pouco menos distante. 
Comecemos